MARCOS AMARO
Quando visitei o conjunto das composições espaciais do artista plástico Marcos Amaro o impacto que me causou foi de um encontro com uma matéria e com um discurso amoroso onde o tema decorrente, de certa forma, havia sido frequente em minha adolescência.
Peças de aviões, cujos enfrentamentos formais, em suas montagens, me fizeram retornar mentalmente, ás aulas de pilotagem que eu havia tido no Aero Clube da Praia Grande, em São Paulo. Estas aulas não tiveram sequência, mas a fantasia dos voos sempre esteve presentes em minha vida, com aeromodelos e principalmente em minhas pinturas dos anos 80.
As obras do Marcos me fazem retornar a estes momentos, mas em sua poética o elemento emocional fica evidente, quando as colagens não seguem a lógica construtiva do objeto em questão, mas nos impele a vê-las como ícones com significados próprios e em certas vezes quase uma sacramentação do avião. Este é, por exemplo, quando o artista pendura uma composição feita por duas meias-asas, agregadas, como se fosse um mobile independente do significado que tiveram em uso de voo.
Sentir nestas obras, a emoção dramática que elas carregam nos obriga também a entendê-las com uma estética, onde o diálogo da realidade não é o enfoque a ser perseguido, mas sim a fantasia e a magia que elas no remetem, onde a luz, por exemplo, não quer iluminar, mas sim direcionar, como se dissesse onde o nosso olhar deverá ficar balizado, como fica também no taxiamento da aeronave em solo. São luzes que desenham e fazem contrapontos, com as texturas dos outros componentes, tais como parafusos, rodas, lemes, partes de fuselagem, acentos, vigias, portas, hélices, tecidos, almofadas, plásticos , turbinas e demais componentes, que perdem o significado de seus usos de seus contextos funcionais, para nos exigir uma reflexão. Seguramente estamos frente a uma testemunha recomposta de um drama, onde o tema essencial é a Vida. Há um voo mágico que nunca saberemos onde o artista nos levará, depende de nossa vontade acompanha-lo.
Acredito que este é um discurso estético, que seguramente se desenvolverá de forma mais minimalista e sutil, pois o artista se dispõe aos desafios e sua coragem está bastante presente nestas obras. Marcos Amaro é um artista cujo discurso, pelo fato de usar sua emoção como tempero básico, nos brindará com mais obras, onde nossos sonhos percorrerão independente das referencias que venhamos a ter. A obra se posiciona aberta e queiramos ou não, ela mostrará seu rastro.
Gilberto Salvador