Arthur Schopenhauer, o grande filósofo da arte, apontou que “a vida nunca é bela, só os quadros da vida são belos, quando o espelho da poesia os ilumina e os reflete”. Em outro momento completou: “A arte é uma flor nascida no caminho da nossa vida, e que se desenvolve para suavizá-la”.
Aí encontramos os mares e ares tormentosos por onde navegamos, deparando-nos com as mais inexoráveis realidades existenciais de incertezas, ameaças, aflições e perdas. A arte surge como verdadeiro salva-vidas universal, capaz de lançar respiros frente às sufocantes amarguras do viver.
Náufragos flutuantes de Marcos Amaro nos remete a tais inevitabilidades. Ele nos leva e traz esses sentimentos de dores e alívios a um só tempo. Arranca os véus da ilusão de que existir é um doce experimento de alegrias e prazeres, já que na verdade a vida necessariamente sempre redunda em morte e ruína.
Amaro é um ser raro. Carrega o espírito da mais profunda inquietação criativa; tem a dimensão de que somos meros passageiros transitórios, navegando naves frágeis e efêmeras. Só a criação artística pode nos aliviar a dor que isso causa.
O artista nasceu num país naufragado, indigente, destituído de elites, onde impera o vale-tudo do dinheiro. Nau sem rumo, tragicamente perdida, sem nunca encontrar seu destino, decadência sem apogeu. O país não afunda nem se move, é malogro flutuante.
Mesmo à deriva, ora em parálise, ora em retrocesso cronicamente inviável, navegar é preciso… Neste movimento, iluminado pela poesia, Marcos Amaro desvenda belezas nos escombros, fantasmagorias, miragens. Refletindo os perigos compulsórios do viver, revela a busca compulsiva que só leva ao vazio pleno da solidão.
Redenção. Dor. Sensível. Agonias, amarguras, agitações, desordens, sofrimentos.
O espectador não pode observá-las sem se comover, sem ver representado o estado de espírito do artista, tranquilo, sereno, com o maior sossego, tal como era necessário para fixar a atenção sobre objetos insignificantes e indiferentes, e reproduzi-los com tanta solicitude. E a impressão é ainda mais forte porque, ao nos observarmos, admiramo-nos do contraste dessas pinturas tão calmas com os nossos sentimentos sempre obscurecidos, sempre agitados pelas inquietações e pelos desejos.
Estão representados o lado medonho da natureza humana, a dor sem nome, os tormentos, o triunfo da maldade, o domínio irônico do acaso, a queda irremediável do justo e do inocente; são sinais notáveis da constituição do mundo e da existência…
A tendência e o último objeto da tragédia é inclinar-nos à resignação, à negação da vontade de viver. No entanto, ela nos afirma como último resultado, que a vida considerada no seu conjunto é muito boa, sobretudo agradável e muito divertida. É preciso, bem entendido, deixar cair o pano depressa sobre o alegre desenlace, para que se não possa ver o que sucede; enquanto em geral a tragédia acaba de tal modo que não pode acontecer mais nada.
Roberto Viana