Aquilo que resta, de Marcus de Lontra Costa | 2018

O desafio é o combustível do artista. Marcos Amaro é, essencialmente, um construtor de grandes volumes, associando elementos e densidades distintas que criam objetos de forte impacto visual. Chapas, latarias e fuselagens estruturam seu discurso poético e cada obra sua deve ser compreendida como parte de um processo articulado. Elas são engrenagens em movimento, história que se realiza na confluência da arte, da cultura, da indústria, da tecnologia e da comunicação.

A mostra reúne pequenos objetos que se localizam no espaço difuso entre a pintura e a escultura. Se, nos seus objetos maiores, o artista aproxima matérias e conceitos aparentemente diferenciados, em diálogo permanente com Chamberlain e Tunga, inseridos no universo da pop art que aproxima procedimentos artísticos e industriais, nesses objetos menores aqui expostos o artista parece investir na substância, no mundo das matérias graxas, nos óleos, gorduras, betumes, instância da matéria entre o sólido e o líquido, obra em processo, pensamento e ação dialética. Densas, compactas, misteriosas e estranhamente belas, essas obras conectam-se diretamente com a arte povera, movimento ainda a merecer um estudo profundo sobre suas influências na arte brasileira nos últimos 50 anos.

Nessa instigante relação que Marcos Amaro estabelece com o espaço e o tempo, revela-se o seu profundo compromisso com a ação artística no mundo de realidades líquidas onde vivemos. A solidez da matéria parece insinuar a iminência de seu fracasso; a paleta econômica deixa aparecer vestígios de cor e luminosidade como a sugerir que algo em seu interior vibra, pulsa, resiste. Caixa de Pandora contemporânea, baú de reminiscências, corpo fragilizado, nascimento e morte enfrentando a certeza e a permanência. O pó, o resquício, aquilo que resta, aquilo que permanece, aquilo que nasce e que morre, aquilo que resiste, aquilo que persiste, aquilo que espera. Fragmentos de um discurso poético amoroso que o artista corajosamente expõe e revela ao público.

Marcus de Lontra Costa
São Paulo. Outubro. 2018