Marcos Amaro desbrava o campo da escultura contemporânea onde não se define muito bem os limites do que entendemos por escultura, instalação e pintura. Não dá também para falar em estilo. Para a arte contemporânea, a palavra está em desuso e, mais ainda, não caberia para comentar as esculturas instalacionais pictóricas de Amaro.
Não há normas tradicionais a reger sua criação. Não há exigência de materiais nobres. Não há exigência das mãos do artista a moldar a matéria – muitas vezes esta já é dada. Não há a rigidez de pureza na forma e no material escultórico, tão pouco no pictórico. O que vemos, em uma primeira vista, é o acúmulo de coisas aparentemente aleatórias que formam uma massa que assume um certo geometrismo sem forma, quer dizer, um gesto pictórico disforme.
Descobre-se nas suas instalações a predominância de procedência diversa. Em um segundo olhar, percebe-se que a arrumação que faz não é aleatória. Há uma ordenação que resulta nessas formas geométricas meio moles.
O artista, a bem da verdade, ao divagar sobre a diversidade de materias e formas que acumula, também acaba por pintar, no desmonte, no acúmulo, na colagem e no seu processo de criação.
Estes materiais colados e acumulados formam uma superfície que vai pendurada na parede. São camadas, campos de cores e texturas que cria, carregados ainda daquela sujidade pousada pelo tempo nesses materias, muitas vezes encontrados na condição de abandono. Nada mais do que a poeira acumulada e o enegrecimento provocados pela passagem do tempo.
São pinturas “matéricas” que saem do plano, sobressaindo os campos de cor dos próprios materiais.
Já as esculturas podem ficar penduradas, suspensas, apoiadas por cabos nas paredes ou simplesmentes organizadas e pousadas sobre o chão. Na sua poética, percebe-se que Marcos Amaro procura o seu caminho e coerência interna no que faz, ao observarmos o conjunto desta exposição proposta para a Funarte de Belo Horizonte. Trabalha com a memória da matéria construindo campos de cor, contorcendo, dobrando, colando, soldando, pintando, moldando e dando, dessa forma, novos sentidos para a matéria.