Transpictórico | Fábrica de Arte Marcos Amaro | FAMA

TRANSPICTÓRICO
Fábrica de Arte Marcos Amaro | FAMA
Abertura dia 24 de janeiro de 2020

Marcos Amaro desbrava o campo escultórico e pictórico contemporâneo, em que não se definem muito bem os limites do que entendemos por escultura, instalação e pintura. Tampouco é possível falar em estilo. Na arte contemporânea, a palavra caiu em desuso – e menos ainda se encaixa na obra instalacional e pictórica de Amaro.

Não são normas tradicionais que regem sua criação. Assim como não há a exigência de materiais nobres ou de fatura pelas próprias mãos do artista – a matéria nem sequer precisa ser moldada, já é entregue tal como é. A práxis de Marcos Amaro é transformar a matéria, tirar o sentido original de sua forma e função para dar-lhe uma nova condição de escultura. O mesmo se dá com seus desenhos, gravuras e fotografias, nos quais registra os índices da aviação e de embarcações de guerra.

O artista tem paixão por aeronaves, principalmente as usadas em guerras. Aviões que foram vistos na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais sobrevoando os céus da Europa, na primeira metade do século 20. Submarinos desenhados na superfície dos oceanos carregam a atmosfera pesada do desenho denso de cinza e negro, representação sinistra do medo que pairava sobre o território europeu, palco de duas guerras mundiais.

Nas pinturas volumosas de parede, em uma primeira vista, emerge o acúmulo de coisas aparentemente aleatórias que formam uma massa assumindo certo geometrismo, meio mole, meio arredondado, ora duro, ora macio, e até mesmo esvaziado da forma. Em outras palavras, um gesto pictórico disforme ao juntar partes de maquinários, assentos vermelhos originários de material aeronáutico, fazendo disso uma espécie de colagem ou bricolagem, como faziam os artistas dadaístas e inventores das instalações ao juntarem matéria, forma e cor, lá nos anos 1920.

Há, nessas misturas de materiais de Marcos Amaro, campos bem definidos e organizados, como se viam nas colagens dos dadaístas. Volumes e formas meio disformes organizados no espaço, no caso de Amaro, de diversas procedências. Sobressaem tema e material aeronáuticos. Um debruçar mais cuidadoso sobre essas esculturas e instalações leva o olhar do espectador a perceber que o que existe ali não é aleatório, mas sim uma ordenação peculiar desses volumes.

A bem da verdade, o artista divaga sobre a diversidade de matérias e formas enquanto pinta, desmonta, acumula e pratica a colagem, desenha, grava, fotografa, imprime e pinta. Tudo isso compõe seu processo de criação com partes de carcaças de avião que o artista recorta e desloca para o espaço expositivo, conferindo-lhes condição escultórica. Essas peças adquirem a forma de barcos ou de sobras da carcaça de uma embarcação. Deixam de ser partes de aeronaves para nos fazer lembrar de partes de navegações, mimetizando assim, com o peso do negrume sobre o chão e a parede, um mar no horizonte.

Em sua poética, Marcos Amaro procura seu caminho plástico e coerência para dar forma ao conjunto desta exposição na Funarte de Belo Horizonte.

Ele confere novos sentidos para a matéria, para o gesto de esculpir, gravar, desenhar e pintar, em um claro desejo de ter asas para voar na imaginação.


Ricardo Resende
Curador

Fábrica de Arte Marcos Amaro | FAMA
Rua Padre Bartolomeu Tadei, 09
Vila São Francisco, Itu – SP
Quarta-feira a domingo, de 10h às 17h