Três grandes pensadores para a vida

Três grandes pensadores para a vida
fev 11, 2021 Rafael Kamada

Três grandes pensadores para a vida

A filosofia me ajuda a compreender o mundo: ela amplia minha visão, serve como instrumento crítico e me dá a possibilidade de investigar melhor as coisas ao redor. Dentre os filósofos que integram o cânone universal, destaco três nomes como fundamentais para minhas reflexões: os alemães Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Martin Heidegger (1889-1976) e o francês Jean-Paul Sartre (1905-1980). São autores de textos que eu visito frequentemente, voltando a suas obras e, com elas, crescendo e amadurecendo cada vez mais.

Nietzsche foi das minhas primeiras descobertas filosóficas. Acredito que tenha lido sua obra completa e estou sempre a reler, principalmente A Vontade de Poder. Ele tem um papel definitivo na minha maneira de pensar justamente porque sua filosofia nos impele a quebrar ídolos, a questionar os pressupostos basilares de nossa civilização, a colocar a morte de Deus como algo categórico.

E Nietzsche cumpre isso de forma voraz, com vigor e um estilo particular — sua escrita se caracteriza por muitas frases de poucas palavras, sempre com profundidade ímpar. Quando ele critica o cristianismo e a própria noção de Deus, por exemplo, ele o faz atentando para o fato de que, sem a existência de um ser superior, o ser humano passa a ter papel definitivo daquilo que quer ser. Ao quebrar ídolos com um martelo, Nietzsche nos liberta de uma visão infantil de mundo, amadurece-nos.

Não se trata de um niilismo que nos impede o movimento, mas sim da consciência de que somos donos de nós mesmos. Em Assim Falou Zaratustra, ele demonstra alegoricamente esse processo de metamorfoses do espírito: primeiro deixamos de ser camelos, seres que levam a moral consigo; depois, como leões, quebramos a moral; só então, crianças, somos capazes de criar novos signos.

Fascina-me também a ideia do eterno retorno. Nada mais é do que o peso que há em cada decisão que tomamos — são rumos que definem a existência por todo o sempre. Assim, uma escolha vai voltar ao indivíduo para toda a eternidade. E a felicidade, em suma, é estar satisfeito com o resultado dessas decisões, é sentir um sopro que traz tranquilidade e satisfação.

Tomei contato com a obra de Heidegger algum tempo depois. A chave para seu entendimento é a fenomenologia, ou seja, o estudo dos fenômenos que giram em torno do homem, e a ontologia, que é o estudo do próprio ser. Heidegger se preocupa muito com o ser, mas também com o vir a ser — se relacionando com o ente, a entidade como algo que está fora do próprio ser mas que se transforma, o tempo todo, com esse vir a ser. O ser é o sendo. Ao passo que o ente, esse conceito de entidade, é algo que está sempre procurando saber para ser — aproximar o ente do ser é a grande questão desse filósofo.

Para Heidegger, o ser humano é jogado no mundo e, dessa forma, precisa questionar os valores, as noções e as ideias para entender se ele é aquilo que de fato gostaria de ter sido. A realização dessa potência depende da análise constante do ser — algo que se dá no tempo. E quem cria o tempo? O limite da morte: eis o motivo da angústia humana.

Vivemos numa busca constante pelo ente, caminhando em direção a ele, mas o tempo nos lembra que é um esforço finito — e tal consciência funciona como a grande libertação para o ser. Gosto particularmente do livro Ser e Tempo, em que Heidegger coloca esses questionamentos e provocações.

Sartre traz a noção da responsabilidade e do livre-arbítrio. Com ele, entendemos por que damos maior importância para a visão dos outros, pois são eles que esclarecem quem somos. O papel do outro na formação de nossa visão é substancial — o inferno são os outros porque são eles que definem o espaço de nossa liberdade.

Esses três pensadores me embebedam de conhecimento. Instigam-me  a me tornar mais, a atingir mais potências dentre aquilo que ainda não escolhi. Lê-los e estudá-los é uma maneira de mergulhar no entendimento daquilo que sou, daquilo que quero ser e das possibilidades daquilo que ainda serei — ciente de que, ao escolher alguma coisa, eu deixo de ser outra na sua totalidade.

Filosofia é, para mim, como uma religião. Os filósofos me nutrem e enriquecem a experiência e a existência aqui na Terra.

 

* Artista plástico, colecionador e empresário, Marcos Amaro é presidente do FAMA Museu e Campo.