Meus tempos com Cabral ou O que é Arte?
Meu corpo está exausto. Meus dedos da mão direita estão em carne viva. Dos choques do carvão nas telas do desenho.
Já são três semanas de trabalho diário.
Sonhos, conversas, observações, desenho, pintura, análise, treinamento fisico, estudos e completo isolamento social.
Foco, dedicação e uma relação de amizade que me incentiva pra esse mergulho.
Já não é a primeira vez. Foram muitas outras vezes. Com Rubens Espirito Santo, Donizete Soares e Flávio Gikovate. Interlocutores, arqueólogos e aventureiros do espírito humano.
Foram muitas matérias, revisões, questionamentos e buscas que me possibilitam esclarecer algumas coisas.
Dos primórdios da minha história aos exercícios atuais.
Nada que não seja uma necessidade interior me motiva.
Me coloco em questão constantemente. Para ver a vida escapar diante dos meus olhos. É sombrio, erótico, instinto.
O trabalho é ser inteiro, íntegro, total.
Cartógrafo de mim mesmo. Da onde estou e para onde vou, o que sei e o que ainda não sei sobre mim — mas desconfio.
Atitude e receio. Criação e destruição. Quais são os limites e as oportunidades? Como posso me alterar diante dos meus olhos? Quais são os subterfúgios que me escapam? Dos olhos de uma criança aos julgamentos de um velho homem.
Esclarecer. Vir à tona. Passar a limpo. Revisar. Encontrar uma brecha.
Nada muito diferente do que me é caro.
Criar um vocabulário próprio.
Quero notar os artistas Andre Albuquerque e Bruno Passos que também são fiéis a si mesmo.
Também agradeço aos amigos Luiz Armando Bagolin e Gilberto Salvador.
Marcos Amaro.
São Paulo, 4 de abril de 2020.