A matéria com a qual trabalho
Um dos aspectos mais significantes dos objetos criados pelo artista multimídia Marcos Amaro, é a matéria articulada dentro da sua obra. As novas esculturas são feitas em argila e depois fundidas em bronze.
Para Amaro, modelar nesses dias de pandemia que foi submetido a um forçado isolamento, passa a ser essencial para a sobrevivência. Criar é uma forma de expandir o mundo real e objetivo que nos rodeia. Criar com as mãos é ainda mais necessário. Seria uma forma de ver e extravasar sua própria natureza, um ser sensível que carrega emoções. Nada mais do que isso, uma necessidade poderia ser dito ainda, vital para a sobrevivência ao extravasar sua energia criativa acumulada. As tensões são liberadas pelas mãos no gesto que amassa, modela e pensa. Forma visceral e verdadeira de expressão.
Nesse gesto criativo de moldar, Marcos incorpora o espaço no entorno de suas esculturas de formas amassadas, que modeladas sugerem figuras fantasmagóricas, que por outro lado, são formas que também sugerem a abstração da forma humana. Nessa subtração de uma forma bem definida, desfigurada talvez, tornam-se imagens do ser humano ampliadas em sua essência. É a ideia primitiva do corpo, antes isolado, agora soltos no espaço que ocupam. Uma dessas esculturas surge dependurada em uma quina de um móvel doméstico (Sem título, 2020), como se estivesse escorrendo e se preparando para cair no precipício do vazio que tem diante de si. Outra parece uma mão ou uma pata, deformada pela tensão que expressa e parece um ser suplicante (Ovo da serpente, 2020). Disformes, quase por completo, duas outras aludem a corpos em movimento, mutilados, desesperados no desejo de desprender da matéria pesada que os prende gravitacionalmente do que seria o chão (O Corvo, 2020 e Torso, 2020). Três esculturas, (Sem titulo, de 2020), são mais definidas na forma humana. Duas delas mais para o que seria um braço o perna e a outra para uma mão segurando firmemente uma forma fálica. Todas a três têm em comum, também, serem formas expressamente suplicantes, em êxtase, como outras duas, O Beijo, 2020 e Sem título, 2020. Ambas muito parecidas, carregam o um e o outro, em uma clara simbiose de corpos, como em um ato sexual. Rosto feminino, de 2020, tem um caráter surreal quando resta solitariamente sobre o anteparo em que repousa. Apenas o contorno de uma face de mulher sem a caixa da cabeça humana. Por fim, a série de esculturas é composta por mais uma, Sem título, 2020, que nos remete para duas forças estranhas na forma subtraída de mãos em combate. Uma parece prestes a devorar a outra.
O conjunto de 11 esculturas em bronze, articuladas, ressoam na obra de escultores modernos com viés surrealista e expressionista. No entanto, a obra de arte sempre responde ao seu tempo. Mais precisamente, no tempo em que foi realizada. Essas foram feitas em um momento de muita tensão social, durante a quarentena imposta pela pandemia do codvid 19. Período de isolamento que levou ao sentimento angustiante de confinamento, exigindo do artista, como escape, expressar através de sua produção criativa.
Marcos Amaro (1984), tem formação em Economia e começou seus estudos em Filosofia no Instituto Gens de Educação e Cultura, por necessidade de buscar o sentido para sua existência. É a filosofia que o leva a pensar e fazer Arte. Também lhe deu o sentido para a liberdade da criação. Foram anos de estudo até que chegou no Ateliê do Centro, em São Paulo, frequentando-o por alguns anos. Foi no ambiente desse ateliê de arte coletivo que adentrou no caminho da Arte e da criação. Sua trajetória tem mais de 10 anos de produção intensa e, cada vez mais vigorosa nessa ânsia de viver e criar.
Ricardo Resende